Fernando Diniz conta que Philippe Coutinho pensou em abandonar o futebol: “O que busco é transformar a vida de quem precisa”

Escrito em 05/11/2025
Redação Vasco - Jogo de Hoje

Técnico do Vasco defende que o Brasil carece de uma mudança profunda no aspecto humano antes do tático

 



Coutinho e Fernando Diniz se abraçam em jogo do Vasco — Foto: Thiago Ribeiro/AGIF
 

Durante sua participação no 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, realizado na última terça-feira, o técnico Fernando Diniz surpreendeu ao revelar que o meia Philippe Coutinho chegou a pensar em encerrar a carreira. O treinador do Vasco aproveitou o evento para criticar a forma como o futebol brasileiro trata seus atletas e afirmou que o país precisa de uma “revolução psicossocial” mais do que de ajustes táticos.

 

As pessoas me olham como se eu fosse um cara fissurado em parte tática, eu sou fissurado em fazer o melhor para o jogador. Se eu desenvolvo uma coisa na parte tática e as pessoas acham diferente, tenho pouco ouvido para o que está fora e muito ouvido para o que está dentro. Eu desenvolvo uma construção constante, inacabada daquilo que é melhor para os jogadores e com os jogadores. O que eu persigo a vida inteira é mudar a vida de um John Kennedy, de um Rayan e gente desse tipo. Do Coutinho, que também precisa de ajuda, porque tem dinheiro, passou por grandes clubes e disputou a Copa do Mundo, mas queria parar de jogar. Agora não quer mais parar. No fundo todo mundo precisa de ajudaafirmou Diniz, durante o evento, acompanhado pelo Jogo de Hoje.

 

Coutinho, revelado nas categorias de base do Vasco, deixou o clube ainda jovem para jogar na Europa. Ao longo da carreira, defendeu Inter de Milão, Espanyol, Liverpool, Barcelona, Bayern de Munique, Aston Villa e Al-Duhail, antes de retornar a São Januário na temporada passada. Desde a chegada de Diniz, o meia reencontrou o bom futebol e passou a ser uma das principais peças do time, somando 11 gols e cinco assistências em 47 jogos.

Em sua fala, Diniz reforçou a importância de olhar para o lado humano dos jogadores, destacando que o ambiente do futebol muitas vezes ignora as fragilidades emocionais dos atletas, especialmente dos que vêm de origens humildes.

 

Acho que o principal problema do Brasil é psicossocial, não tem tanto a ver com futebol. As discussões do futebol não têm a preocupação devida, a gente não se volta para o jogador de futebol. Os treinadores de futebol, antes de tudo, acho que são educadores [...] A gente tem o poder de transformar muitas vidas. Eu sou treinador por causa disso, eu não sou treinador principalmente para ganhar título e levantar taça.

 

O técnico ainda destacou que o excesso de cobranças desde as categorias de base até o profissional pode ser devastador:

 

Eles chegam com oito, nove, dez anos, passam oito anos sendo cobrados por resultado e, quando tem 19, 20 anos, têm que responder a esse massacre que é imprensa, rede social, estádio cheio. Se a gente não mudar esse olhar, a gente vai ficar patinando.

 

Diniz também questionou a tendência de se copiar o modelo europeu e defendeu que o Brasil valorize sua própria identidade futebolística e cultural:

 

Não é copiando a Europa que a gente vai melhorar muita coisa aqui, se a gente não olhar para quem é nosso jogador e para o que é o futebol brasileiro, que são os jogadores.

 

O comandante do Vasco concluiu seu discurso reforçando que o verdadeiro papel de um técnico vai muito além de vitórias:

 

Ser treinador e ser jogador no Brasil é das coisas mais difíceis, e a gente valoriza pouco. [...] A revolução no Brasil é mais psicossocial do que um programa tático, técnico e físico.

 


✦ Fonte – Jogo de Hoje 360°


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